sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Estação nova do metrô de SP monta estratégia contra fila e aperto

23/12/2016 - Folha de SP

EDUARDO GERAQUE
LUCIANO VERONEZI
JÚLIA BARBON

O Metrô de São Paulo decidiu apostar em estratégia diferente para evitar a segunda versão da "marcha dos pinguins" em uma das mais importantes integrações do futuro sistema sobre trilhos.

É com esse apelido que ficou conhecida a ligação entre as estações Paulista e Consolação, das linhas 4-amarela e 2-verde. Como pinguins em marcha, esses passageiros andam apertados no espaço estreito, com passos curtos e bem devagar. Mal conseguem mexer os braços, tamanha a superlotação do túnel.

Ciente do erro nesse projeto, a companhia ligada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu fazer um projeto de construção inédito para a futura interligação das linhas 1-azul e 5-lilás, na estação Santa Cruz (zona sul).

A expectativa do Metrô é que essa baldeação receberá aproximadamente 143 mil usuários por dia em 2020, 8.000 a mais que a expectativa no túnel da Paulista.

A principal diferença entre os dois projetos está na quantidade de acessos para a interligação. Se na Paulista os usuários ficam dando encontrões em um túnel único, na estação Santa Cruz haverá duas passagens separadas.

Um caminho vai jogar os usuários da linha 5 na plataforma da linha 1, sentido Jabaquara. Outros dois túneis, com cinco metros de largura cada um, construídos por baixo do primeiro caminho, darão vazão aos usuários que se deslocam sentido Tucuruvi.

Outra mudança na construção da futura estação da linha 5, sob a atual estação Santa Cruz, da linha 1, é a posição das escadas rolantes.

Diferentemente do que existe na estação Paulista, as escadas rolantes não vão descer diretamente na plataforma dos trens. Serão recuadas, para deixar mais espaço para a multidão esperar pelo trem.

A nova Santa Cruz será a estação mais profunda de toda a linha 5, com 41,5 metros de profundidade -contra 7 m da atual, na linha 1.

Partindo da rua, serão seis lances de escadas rolantes para conseguir pegar um trem -na estação Paulista, são sete.

Hoje a linha 5 liga as estações Capão Redondo e Adolfo Pinheiro. O Metrô diz que as obras atuais de prolongamento até a Chácara Klabin estarão totalmente prontas até 2018. Isso significa um atraso de quatro anos em relação à promessa inicial.

As 10 novas estações, espalhadas por 11,5 km, serão inauguradas em três lotes.

O governo diz que em meados de 2017 vão começar a operar, em horário reduzido, as estações Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin.

No fim do mesmo ano, a expectativa é que os usuários possam usar as estações Eucaliptos, Moema, AACD-Servidor, Hospital São Paulo, Santa Cruz e Chácara Klabin.

A estação Campo Belo, no cruzamento das avenidas Santo Amaro e Jornalista Roberto Marinho, onde no futuro deverá haver uma conexão com a linha 17 de monotrilho (outro ramal atrasado desde 2014), deve operar em 2018.

A previsão do Metrô é que, depois da conclusão dessa fase, a linha 5 transportará 800 mil passageiros diariamente -num total de 20 km de extensão e 17 estações.

O trajeto desse trecho de metrô vai percorrer, mais de um século depois, boa parte do percurso que era feito pelo bonde, entre Santo Amaro e a região central da cidade.

Desde 1995, as gestões tucanas de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin inauguraram em torno de dois quilômetros de metrô ao ano. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Alckmin quer privatizar duas linhas do Metrô por cerca de 1% do investido na construção

14/12/2016 - Rede Brasil Atual

LIQUIDAÇÃO

As obras estão estimadas em R$ 10 bilhões, mas governador pede R$ 120 milhões pelo lance inicial, equivalente ao preço de cinco dos trens da Linha 5-Lilás, que foram comprados mas não são usados

por Rodrigo Gomes, da RBA

trem
Obras da Linha 5-Lilás estão atrasadas há anos e trens sem uso estão abandonados no sistema, como o P16

São Paulo – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pretende entregar à iniciativa privada as linhas 5-Lilás (Capão Redondo-Largo Treze) e 17-Ouro (Congonhas-Morumbi) da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) por um lance mínimo equivalente a 1,2% do valor investido para construir o sistema. Serão pedidos R$ 120 milhões aos interessados, por duas linhas que, juntas – e ainda em obras –, têm um custo total estimado de R$ 10 bilhões. Para o Sindicato dos Metroviários, trata-se de uma “verdadeira liquidação” do Metrô. O governo Alckmin abriu 30 dias de consulta pública da minuta do edital de licitação no dia 30 de novembro.

O valor cobrado pelo governo Alckmin também é equivalente a apenas cinco dos 26 novos trens da Linha 5-Lilás, que ao todo custaram R$ 630 milhões aos cofres paulistas, mas que estão sem utilização, por conta dos recorrentes atrasos nas obras (iniciadas em em 1998).

Pela concessão – que terá vigência por 30 anos – será pedida somente a outorga onerosa mínima de R$ 120 milhões, mais 1% da arrecadação tarifária e 1% da receita com publicidade e utilização de espaços comerciais. “Serão 30 anos de exploração com lucro total para as empresas”, avalia o sindicato.

Inicialmente, justificou-se a concessão para arrecadar dinheiro para a conclusão das obras. No entanto, o último aditamento – recurso que pode aumentar valores e serviços a serem realizados – feito ao contrato da Linha 5-Lilás, em julho deste ano, foi de R$ 260 milhões. Mais que o dobro do lance inicial da licitação, apenas para obras de acabamento em duas estações e num dos pátios de manutenção, o Guido Caloi. A Linha 5 ainda tem onze estações em construção, das 17 previstas.

Segundo os trabalhadores, o valor mínimo que a gestão Alckmin estabelece pelas duas linhas seria quitável com a arrecadação tarifária de apenas 100 dias de operação do sistema. Pelo edital de licitação, o Metrô pagará remuneração de R$ 1,69 por passageiro transportado à empresa que vencer a licitação. Mas seguirá cobrando R$ 3,80 da população. A concessionária será responsável apenas pela operação, manutenção e atualizações do sistema, sem praticamente nenhuma necessidade de investimentos.

A Linha 17-Ouro fazia parte das obras de infraestrutura prometidas para a Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Após sucessivos atrasos, as obras estão paralisadas. Nenhuma estação foi aberta até hoje. A construção, em sistema de monotrilho, tem se tornado abrigo para pessoas em situação de rua na Avenida Jornalista Roberto Marinho.

A linha devia ligar a estação São Paulo-Morumbi da Linha 4-Amarela (Butantã-Luz) à estação Jabaquara da Linha 1-Azul (Tucuruvi-Jabaquara), passando pelo Aeroporto de Congonhas. Atualmente, prevê-se a ligação do Aeroporto de Congonhas com a estação Morumbi da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Nessa alteração, onze estações foram excluídas do projeto. Ainda não há previsão de quando a obra será concluída.

As obras que faltam para completar as linhas ficarão a cargo do governo de São Paulo, já que Alckmin que se comprometeu com um cronograma de entrega para a concessionária em fases. No entanto, se os atrasos persistirem, o valor que vier a faltar em relação àquele que fora estimado em cada fase da concessão será bancado pelos cofres públicos paulistas.

A previsão é de que a licitação seja concluída no início de 2017. Certo é que os trabalhadores metroviários da Linha 5-Lilás não permanecerão no trecho após a concessão. O Metrô informou que eles serão reaproveitados nas demais linhas que permanecerão sob administração do Estado.

A demanda de passageiros estimada é de 855 mil por dia, na Linha 5-Lilás, e 185 mil por dia, na Linha 17. Além disso, se a demanda de passageiros for maior que a esperada, a concessionária poderá ficar com toda a arrecadação das linhas, até o limite de 12% acima do valor projetado.

A partir disso, o valor será dividido em 80% para a concessionária e 20% para o governo paulista. Caso a demanda fique abaixo do esperado, o limite será usado no sentido inverso. Até 12% a concessionária arcará com o prejuízo. A partir disso, será realizada uma divisão dos custos com o governo, que não foi detalhada.

O sistema de remuneração será o mesmo que hoje privilegia a Linha 4-Amarela sobre o metrô estatal: a Câmara de Compensação. Todo valor arrecadado com a tarifa é depositado na Câmara, para saque das concessionárias, do Metrô e da CPTM. Hoje, o Metrô estatal saca depois da Linha 4-Amarela. Com a nova concessão, passará a sacar depois da empresa que vencer a licitação das linhas 5 e 17. Será incluída no sistema a concessionária da Linha 6-Laranja (São Joaquim-Brasilândia), que também terá prioridade sobre as empresas estatais.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Dona da linha 6 do metrô de SP pode ficar inadimplente

06/12/2016 - Valor Econômico

A Move São Paulo, concessionária da linha 6-Laranja do Metrô, corre o risco de ficar inadimplente no pagamento de empréstimo de curto prazo de R$ 550 milhões concedido pelo Banco nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo vencimento está previsto para 15 de dezembro. Para evitar a inadimplência, a Move São Paulo precisa estender o vencimento da dívida, que conta com fiança de bancos comerciais. Mas para ganhar mais prazo terá que apresentar garantias adicionais ao contrato de financiamento. A contar de hoje, a concessionária - cujos sócios são Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC - tem dez dias para chegar a um acordo com o BNDES.

O cenário de dificuldades financeiras da Move São Paulo é agravado por possíveis ações judiciais que começam a ser analisadas por parte das empresas japonesas sócias da Odebrecht Mobilidade, que é acionista da concessionária da linha 6. A hipótese de processo é considerada em cenário extremo, em que a Move São Paulo seja levada à recuperação judicial ou à falência. O Valor apurou que uma eventual ação judicial pode ter como alvo a Odebrecht e a Queiroz Galvão, envolvidas em casos de corrupção investigados pela Operação Lava-Jato. As denúncias foram determinantes para o BNDES não liberar o empréstimo de longo prazo para o projeto da linha 6.

Em nota, a Move São Paulo disse não haver "fundamento" uma possível ação judicial dos japoneses. "A concessionária Move São Paulo desconhece completamente essa informação." Afirmou ainda que não há animosidade entre as empresas. A Mitsui, que lidera os investidores japoneses, não quis comentar a possibilidade de inadimplência da concessionária, nem o cenário de abertura de ações judiciais pelos japoneses. A Mitsui disse que tem interesse em investir no Brasil em novos projetos de infraestrutura, mas que sua prioridade é encontrar uma saída para o impasse que cerca a construção da linha 6 do metrô.

As empresas japonesas ligadas ao projeto da linha 6 estão reunidas na Gumi, subsidiária controlada pela trading Mitsui que investe no negócio de trens de passageiros no Brasil. Em dezembro do ano passado, a Mitsui vendeu participações acionárias na Gumi para a operadora ferroviária West Japan Railway (JRW) e para a JOIN, a Corporação Japonesa para Investimento em Infraestrutura, Transporte e Desenvolvimento Urbano no Exterior. A Gumi tem 40% da Odebrecht Mobilidade e os 60% restantes pertencem à Odebrecht Transport (OTP). A JRW dá os primeiros passos no Brasil.

De acordo com a Move São Paulo, a não efetivação do financiamento de longo prazo pelo BNDES foi o principal fator que determinou a paralisação das obras da linha 6, em setembro deste ano. No total, a concessionária havia pleiteado ao BNDES financiamento de R$ 5,5 bilhões para o projeto.

Nos contratos do BNDES, é comum que financiamentos de longo prazo, quando contratados, sirvam para repagar empréstimos-ponte (de curto prazo), além de permitir a continuidade do investimento. O empréstimo de curto prazo concedido pelo banco à Move São Paulo conta com carta de fiança dos bancos BTG Pactual, Crédit Agricole, Santander e ABC. Para estender o vencimento do empréstimo por um ano, as cartas de fiança precisam ser renovadas. Procurados, os bancos não se pronunciaram sobre o assunto.

Segundo apurou o Valor, a Move São Paulo e o BNDES assinaram, em outubro, aditivo ao contrato de financiamento que reduziu o valor do empréstimo de curto prazo para R$ 550 milhões, com base em janeiro de 2015, ante um número originalmente previsto de R$ 1,6 bilhão. A Move São Paulo afirmou em nota que as discussões para se chegar a um acordo continuam: "As negociações junto ao BNDES e aos bancos credores seguem o cronograma previsto e ocorrem dentro da absoluta normalidade."

Também em nota, a Move São Paulo afirmou: "A retomada [das obras do projeto] depende do avanço das negociações junto ao BNDES e ao Governo do Estado de São Paulo". Afirmou ainda que o retorno das obras envolve efetivar o financiamento de longo prazo e mitigar os efeitos causados pelos atrasos na liberação de áreas públicas e na "imissão" na posse de imóveis expropriados.

A Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) disse que o governo do Estado aportou, desde 2015, R$ 694 milhões para pagamento de eventos e R$ 979 milhões em desapropriações de 370 imóveis privados. "Cerca de 95% das áreas necessárias à implantação da Linha 6 já se encontram liberadas. Não há pendências do governo do Estado junto à concessionária que impeçam a retomada das obras", disse a STM. A secretaria afirmou que o plano de financiamento do parceiro privado, apresentado em 2014, prevê três operações de crédito junto ao BNDES: empréstimo-ponte, capital de giro e empréstimo de longo prazo. "As duas primeiras operações já foram contratadas." E concluiu: "A obtenção do financiamento junto ao BNDES é responsabilidade exclusiva do parceiro privado e é condição para a continuidade do contrato de concessão da Linha 6-Laranja. O Governo do Estado trabalha junto ao BNDES para que a questão da financiabilidade seja resolvida."

O BNDES justificou a decisão de não liberar empréstimos adicionais à Move São Paulo: "Em virtude da deterioração da situação cadastral e creditícia dos principais patrocinadores do projeto, estes [os acionistas da Move SP] estão com dificuldades em apresentar as garantias necessárias na fase de obras." Segundo o BNDES, a concessionária Move São Paulo pediu prazo para que sejam apresentadas as garantias necessárias ou seja negociada a entrada de novos patrocinadores capazes de prestá-las ao banco, bem como de aportar recursos próprios no montante requerido pelo projeto.

Há informações de que se cogitou a possibilidade de a JOIN financiar a obra junto com a Mitsui como fonte alternativa ao BNDES. Na nota, o BNDES afirmou que a entrada de novos financiadores reduziria a exposição do banco e as garantias necessárias para o equacionamento do financiamento de longo prazo. "O BNDES está comprometido com o sucesso do projeto e tem apoiado a Mitsui e o governo de São Paulo na busca da solução que permita a continuidade das obras", declarou o banco