segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Governo e especialistas preveem SP com trem e metrô integrados

25/01/2016 - Folha de SP 

Leia: Presa no trânsito, São Paulo chega aos 462 anos voltada aos trilhos - Folha de SP

RAFAEL BALAGO

Tanto nos planos oficiais quanto para especialistas em trânsito e ambiente, há um consenso: o espaço para os carros precisa ser reduzido.

"Não cabem mais carros em São Paulo. Nos dias de pior congestionamento, há 1 milhão de veículos na rua", diz Marcos Kiyoto, mestre em planejamento urbano.

Uma das previsões é que São Paulo terá, além do Rodoanel, outros dois círculos em torno da cidade, mas para o transporte sobre trilhos.

O metrô planeja criar uma espécie de anel ao redor do centro expandido, ao somar a extensão da linha 2-verde (Vila Prudente-Dutra) às futuras linhas 23-magenta (Dutra-Lapa) e 20 (Lapa-Moema).

No papel, essa seria a realidade de 2030. Pelo ritmo atual, no entanto, o anel metroviário deve ficar para bem depois disso. Hoje, há outras três linhas do metrô em construção (6-laranja, 15-prata e 17-ouro), três em ampliação (2-verde, 4-amarela e 5-lilás) e atrasos acumulados. O mais recente deve-se à suspensão do contrato de construção do ramal 17-ouro, de monotrilho.

O outro arco, previsto pela CPTM, é mais amplo e ligará Alphaville a Guarulhos, passando pelo ABC.

"As linhas circulares colaboram para reduzir o movimento na região central", destaca o plano Atualização de Rede Metropolitana, de 2013, que serve como referência para a expansão dos trilhos na Grande São Paulo.

GARAGEM

Para tentar facilitar a opção da população pelo transporte público, a construção de garagens próximas a terminais e estações é incentivada pelo Plano Diretor.

Nas áreas centrais, porém, o plano propõe o oposto: estipula que os novos prédios tenham menos pontos de estacionamento e que o espaço das vagas na rua seja transformado em ciclovias ou usado para ampliar calçadas.

Formas de restrição mais contundentes, como pedágio urbano e ampliação do rodízio, não são citadas. "O projeto é investir pesado em ciclovia e transporte público. O uso do carro vai sendo desestimulado pelo custo de ficar no congestionamento, cuja tendência é piorar", avalia Jilmar Tatto, secretário municipal de Transportes.

Para os ônibus, a proposta é continuar a cortar linhas diretas entre bairro e centro. Nesse modelo, veículos menores levam passageiros até pontos de transferência, de onde seguem viagem em ônibus maiores por corredores.

Mais uma vez, o futuro deve chegar com certo atraso: a licitação que fará um rearranjo no sistema de ônibus foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Município e está sendo reelaborada.

Para José Bento Ferreira, professor de engenharia civil da Unesp, contratos e projetos de má qualidade são os principais motivos da demora na expansão da rede de transporte público.

"Parte-se de premissas otimistas e mal detalhadas. Durante a obra, surgem imprevistos que geram atrasos e conflitos entre Estado e construtoras sobre quem arcará com os custos extras", diz.

Por meio de políticas de uso do solo, os governos estadual e municipal planejam aproximar trabalho e moradia, o que diminuiria a necessidade de transporte.

Uma das metas do plano SP 2040, lançado na gestão Gilberto Kassab (2006-2012), é que o tempo médio de deslocamento na cidade seja de 30 minutos. Em 2007, quando foi feita a última pesquisa Origem e Destino, as viagens de ônibus duravam em média 68 minutos e as de carro, 37. 

ESTADO PLANEJA CEDER TERRENOS DO METRÔ PARA MORADIA

Os planos municipais para os próximos anos projetam uma cidade com mais pessoas de baixa renda vivendo em áreas centrais e menos habitantes em favelas irregulares.

Há dificuldade, porém, em criar um modelo financeiramente viável para que essa população, que ganha até seis salários mínimos (R$ 5.280), se estabeleça em regiões mais valorizadas e com melhor infraestrutura.

O desafio é zerar o deficit habitacional, atualmente em 500 mil casas. Segundo o Plano Municipal de Habitação, de 2009 até 2024 serão necessários mais 772 mil domicílios, sendo 60% deles para baixa renda.

Embora o Plano Diretor reserve áreas para casas populares em áreas centrais, o mercado imobiliário considera que o modelo precisa de subsídios para ser economicamente viável.

"Com a regra atual, a iniciativa privada sai do processo e o Estado terá de assumir. Precisa ter lucro para as empresas se interessarem", afirma Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário) e colunista da Folha.

A aposta do governo estadual são as PPPs (parcerias público-privadas). Nelas, o Estado cede o terreno para a construtora, que usa parte da área em casas para fins sociais e no resto ergue imóveis com venda livre. Nenhum projeto no modelo foi finalizado ainda.

"O Metrô cederá terrenos para moradias na Radial Leste", conta Rodrigo Garcia, secretário estadual da Habitação. Os projetos, ainda em elaboração, ficarão em bairros como Brás, Belém e Tatuapé. O terreno da Usina de Asfalto, na Barra Funda, foi doado pela prefeitura para a mesma finalidade.

Já João Whitaker, secretário municipal de Habitação, diz que a cidade busca diversificar as fontes de recurso para investir mais em moradia.

"A PPP é desastrosa, pois exclui os mais pobres. É voltada para quem tem renda de três a seis salários mínimos e ignora quem ganha menos", diz Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e colunista da Folha.

FACHADAS ATIVAS

Perto de estações de metrô e corredores de ônibus, o Plano Diretor prevê prédios residenciais de uso misto, com lojas no nível da rua e partes do térreo abertas ao público.

"Parte da classe média está procurando bairros com fachadas ativas e ruas mais vivas", afirma Renato Cymbalista, do Instituto Pólis.

Já Bernardes, do Secovi, vê dificuldades na proposta, como a falta de segurança. "O mercado terá de sair da caixinha para criar um produto palatável ao consumidor."

A regularização de favelas e de áreas invadidas, prevista nos planos, também é difícil. "Os recursos estão direcionados para unidades novas", diz Cymbalista.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário