17/05/2012 - O Estado de São Paulo
Pela primeira vez em 38 anos de operação, dois trens da Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo bateram durante o horário comercial. Ao todo, 106 passageiros foram atendidos em sete hospitais públicos - e pelo menos 49 deles tiveram ferimentos, na maioria escoriações, segundo o Samu e os bombeiros.
O acidente aconteceu a 600 metros da Estação Carrão, na zona leste da capital paulista, pouco depois do horário de pico, às 9h50. Parte da linha, que é a mais importante da cidade e chega a transportar 1,1 milhão de pessoas por dia, ficou fechada até as 14h20. Os reflexos se espalharam pelo restante da rede.
Três horas após a batida entre os trens, nos hospitais da zona leste, as vítimas ainda estavam em pânico. Os passageiros foram arremessados ao chão e uns contra os outros. Depois, tiveram dificuldades para sair das composições, alegando que algumas das portas não se abriram. A saída foi arrebentar os vidros das composições. "O pessoal começou a quebrar a janela e se desesperar, faltava ar lá dentro", disse a dona de casa Cristiane Campos, de 45 anos.
Ambos os trens seguiam no sentido Palmeiras-Barra Funda. O trem da frente, um modelo da empresa espanhola CAF adquirido na última gestão, estava parado quando foi atingido pela outra composição, que estava cheia. Segundo o governo do Estado, o trem estava entre 9 km/h e 12 km/h.
Os bombeiros tiveram de usar escadas para vencer os muros que separam a linha férrea da Radial Leste e prestar socorro. De imediato, 33 pessoas foram socorridas. Parte dos feridos procurou os hospitais por conta própria. Ambulâncias formaram uma fila na Radial e a ciclovia foi usada como centro de triagem de feridos - apenas dois foram classificados como "graves".
Quem escapou ileso caminhou sobre os trilhos e pela Radial até a Estação Carrão. E quem depende de transporte público sofreu na manhã de ontem. O esquema de emergência com uso de ônibus quase não deu conta da demanda.
Causas. O governo deu poucas explicações para a pane. O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, afirmou que uma comissão vai apurar as causas da batida, que seria decorrente de uma falha mecânica do sistema de controle dos trens. Ao SPTV, da Rede Globo, disse que o Metrô iria avaliar se a falha foi em algum dispositivo ou se foi no circuito que secciona as linhas. "Detectando essa falha, vamos fazer a correção, se necessário for, em todas as placas do Metrô de São Paulo."
O sindicato que representa os metroviários - que faria, ainda na noite de ontem, uma assembleia para definir paralisação - apresentou uma série de detalhes extras confirmados pela companhia. O presidente, Altino Bezerra dos Prazeres, afirmou que a linha já havia apresentado uma falha pela manhã, antes da batida, e o trem só parou porque o operador acionou os freios de emergência. O trem que estava parado seria pertencente à Linha 1-Azul, e estava voltando de um serviço de manutenção. "Acho irresponsabilidade colocar veredictos do que aconteceu", rebateu o secretário Fernandes.
Operador aciona freio e evita tragédia
Uma falha mecânica provocou o choque entre os trens do metrô na manhã de ontem, em São Paulo. Segundo relato à polícia do maquinista da composição que colidiu com outra parada, na Linha 3-Vermelha, houve oscilações atípicas no painel de controle do trem, momentos antes do acidente. O sistema indicava para o veículo acelerar - quando deveria parar.
Na versão do operador, o acidente só não tomou proporções mais graves porque ele soube reconhecer a falha a tempo de acionar o freio de emergência, que desacelerou o trem de forma gradativa. Quando houve o choque, a velocidade da composição estava entre 10 km/h e 12 km/h.
Em depoimento, o funcionário de 29 anos de idade disse também que, até constatar a falha, a composição era operada automaticamente, como determina o sistema de segurança do Metrô. Nesse modo, a função do condutor é apenas a de fiscalizar as funções, sem intervir nos processos de aceleração e desaceleração, por exemplo. A mudança só teria ocorrido porque o maquinista viu um trem parado à frente.
"Ele agiu como um herói. Tomou a decisão certa para evitar uma tragédia maior. Mais um metro de distância nem haveria a batida", afirmou o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, responsável pela investigação.
Minutos antes da batida, outra falha foi identificada na linha. Segundo o diretor do Sindicato dos Metroviários Alex Fernandes, o operador de outra composição relatou ao Centro de Controle Operacional do Metrô um problema no sistema automático dos trens no trecho do acidente. O maquinista teria alterado o controle para manual e evitado a colisão. "Foi por volta das 9 horas", disse. O Metrô confirmou a informação.
O motivo da suposta falha mecânica não foi divulgado. A companhia afirmou que a análise das caixas-pretas de ambos os trens é que determinará o que aconteceu. Os equipamentos foram resgatados pela equipe da Comissão Permanente de Segurança (Copese), responsável pela investigação interna.
Uma das hipóteses levantadas pela polícia é de que um sensor do sistema não funcionou. Sem a leitura automática, a desaceleração programada não ocorreu e o maquinista acionou o freio de emergência só quando viu o trem à frente - a máquina seguiria para a Linha 1- Azul após manutenção.
Os sensores registram a passagem dos trens e promovem, automaticamente, uma redução de velocidade nas composições em circuitos anteriores. Há uma leitura a cada 200 metros, mesma distância considerada ideal entre as máquinas.
Segundo especialistas ouvidos pelo Estado, a Linha 3-Vermelha é segura. Apesar de não ter o CBTC, sistema de segurança utilizado nas linhas 2-Verde e 4-Amarela, o ramal não oferece risco aos passageiros.
"O que vimos hoje (ontem) foi uma grande surpresa. Nunca se imaginou uma batida de trens do metrô, exatamente por esse cuidado com a segurança. Agora, é preciso estudar essa falha para evitar novos casos", disse o engenheiro Horácio Augusto Figueira, especialista em tráfego. O caso foi assumido pela Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), que investigará lesão corporal culposa. O Ministério Público também vai investigar o acidente.
Pela primeira vez em 38 anos de operação, dois trens da Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo bateram durante o horário comercial. Ao todo, 106 passageiros foram atendidos em sete hospitais públicos - e pelo menos 49 deles tiveram ferimentos, na maioria escoriações, segundo o Samu e os bombeiros.
O acidente aconteceu a 600 metros da Estação Carrão, na zona leste da capital paulista, pouco depois do horário de pico, às 9h50. Parte da linha, que é a mais importante da cidade e chega a transportar 1,1 milhão de pessoas por dia, ficou fechada até as 14h20. Os reflexos se espalharam pelo restante da rede.
Três horas após a batida entre os trens, nos hospitais da zona leste, as vítimas ainda estavam em pânico. Os passageiros foram arremessados ao chão e uns contra os outros. Depois, tiveram dificuldades para sair das composições, alegando que algumas das portas não se abriram. A saída foi arrebentar os vidros das composições. "O pessoal começou a quebrar a janela e se desesperar, faltava ar lá dentro", disse a dona de casa Cristiane Campos, de 45 anos.
Ambos os trens seguiam no sentido Palmeiras-Barra Funda. O trem da frente, um modelo da empresa espanhola CAF adquirido na última gestão, estava parado quando foi atingido pela outra composição, que estava cheia. Segundo o governo do Estado, o trem estava entre 9 km/h e 12 km/h.
Os bombeiros tiveram de usar escadas para vencer os muros que separam a linha férrea da Radial Leste e prestar socorro. De imediato, 33 pessoas foram socorridas. Parte dos feridos procurou os hospitais por conta própria. Ambulâncias formaram uma fila na Radial e a ciclovia foi usada como centro de triagem de feridos - apenas dois foram classificados como "graves".
Quem escapou ileso caminhou sobre os trilhos e pela Radial até a Estação Carrão. E quem depende de transporte público sofreu na manhã de ontem. O esquema de emergência com uso de ônibus quase não deu conta da demanda.
Causas. O governo deu poucas explicações para a pane. O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, afirmou que uma comissão vai apurar as causas da batida, que seria decorrente de uma falha mecânica do sistema de controle dos trens. Ao SPTV, da Rede Globo, disse que o Metrô iria avaliar se a falha foi em algum dispositivo ou se foi no circuito que secciona as linhas. "Detectando essa falha, vamos fazer a correção, se necessário for, em todas as placas do Metrô de São Paulo."
O sindicato que representa os metroviários - que faria, ainda na noite de ontem, uma assembleia para definir paralisação - apresentou uma série de detalhes extras confirmados pela companhia. O presidente, Altino Bezerra dos Prazeres, afirmou que a linha já havia apresentado uma falha pela manhã, antes da batida, e o trem só parou porque o operador acionou os freios de emergência. O trem que estava parado seria pertencente à Linha 1-Azul, e estava voltando de um serviço de manutenção. "Acho irresponsabilidade colocar veredictos do que aconteceu", rebateu o secretário Fernandes.
Operador aciona freio e evita tragédia
Uma falha mecânica provocou o choque entre os trens do metrô na manhã de ontem, em São Paulo. Segundo relato à polícia do maquinista da composição que colidiu com outra parada, na Linha 3-Vermelha, houve oscilações atípicas no painel de controle do trem, momentos antes do acidente. O sistema indicava para o veículo acelerar - quando deveria parar.
Na versão do operador, o acidente só não tomou proporções mais graves porque ele soube reconhecer a falha a tempo de acionar o freio de emergência, que desacelerou o trem de forma gradativa. Quando houve o choque, a velocidade da composição estava entre 10 km/h e 12 km/h.
Em depoimento, o funcionário de 29 anos de idade disse também que, até constatar a falha, a composição era operada automaticamente, como determina o sistema de segurança do Metrô. Nesse modo, a função do condutor é apenas a de fiscalizar as funções, sem intervir nos processos de aceleração e desaceleração, por exemplo. A mudança só teria ocorrido porque o maquinista viu um trem parado à frente.
"Ele agiu como um herói. Tomou a decisão certa para evitar uma tragédia maior. Mais um metro de distância nem haveria a batida", afirmou o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, responsável pela investigação.
Minutos antes da batida, outra falha foi identificada na linha. Segundo o diretor do Sindicato dos Metroviários Alex Fernandes, o operador de outra composição relatou ao Centro de Controle Operacional do Metrô um problema no sistema automático dos trens no trecho do acidente. O maquinista teria alterado o controle para manual e evitado a colisão. "Foi por volta das 9 horas", disse. O Metrô confirmou a informação.
O motivo da suposta falha mecânica não foi divulgado. A companhia afirmou que a análise das caixas-pretas de ambos os trens é que determinará o que aconteceu. Os equipamentos foram resgatados pela equipe da Comissão Permanente de Segurança (Copese), responsável pela investigação interna.
Uma das hipóteses levantadas pela polícia é de que um sensor do sistema não funcionou. Sem a leitura automática, a desaceleração programada não ocorreu e o maquinista acionou o freio de emergência só quando viu o trem à frente - a máquina seguiria para a Linha 1- Azul após manutenção.
Os sensores registram a passagem dos trens e promovem, automaticamente, uma redução de velocidade nas composições em circuitos anteriores. Há uma leitura a cada 200 metros, mesma distância considerada ideal entre as máquinas.
Segundo especialistas ouvidos pelo Estado, a Linha 3-Vermelha é segura. Apesar de não ter o CBTC, sistema de segurança utilizado nas linhas 2-Verde e 4-Amarela, o ramal não oferece risco aos passageiros.
"O que vimos hoje (ontem) foi uma grande surpresa. Nunca se imaginou uma batida de trens do metrô, exatamente por esse cuidado com a segurança. Agora, é preciso estudar essa falha para evitar novos casos", disse o engenheiro Horácio Augusto Figueira, especialista em tráfego. O caso foi assumido pela Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), que investigará lesão corporal culposa. O Ministério Público também vai investigar o acidente.
Comentários
Postar um comentário