Metrô de SP gasta 1,7 ano por km construído

24/06/2013 - Valor Econômico

A rede brasileira de metrôs soma 276,4 quilômetros em operação comercial, em sete capitais

Por Gleise de Castro

O atraso que o Brasil acumula no sistema metroviário, mais seguro, confiável, regular, menos agressivo ao meio ambiente e mais rápido e confortável do que os meios rodoviários, deve-se meramente a questões políticas, segundo o consultor e ex-secretário dos Transportes e da Habitação do Estado de São Paulo Adriano Murgel Branco, da AM Branco Consultoria. "Uma linha de metrô leva quatro a cinco anos para ser construída e ninguém queria lançar uma linha para outro inaugurar", explica.

A rede brasileira de metrôs soma 276,4 quilômetros em operação comercial, em sete capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Teresina. A extensão é menor do que a rede de várias cidades no mundo, como Londres (402 km), Nova York (337 km) e Tóquio (328 km). Com o estrangulamento generalizado do tráfego, os governos federal, estaduais e municipais passaram a apostar no metrô, com investimentos em projetos nas principais cidades do país, que devem chegar a 253,5 quilômetros construídos até 2018, aumentando a malha brasileira para cerca de 530 quilômetros. Nesse total incluem-se Curitiba, Fortaleza e Salvador, que ainda não contam com operação comercial dessa modalidade de transporte.

A comparação entre São Paulo e a Cidade do México, mais próxima da realidade brasileira, é ilustrativa. Apesar de terem começado a construir seus sistemas metroviários na mesma época, na década 1970, São Paulo tem hoje apenas 74,3 quilômetros de metrô, enquanto a Cidade do México construiu uma rede de 226,5 quilômetros, com 195 estações. "Construir 74 quilômetros em 45 anos é uma coisa absolutamente ridícula", diz Branco.

Para o consultor, a comparação com cidades de países que implantaram linhas de metrô entre o final do século XIX e início do século XX, como as europeias, passa longe dos problemas enfrentados hoje por São Paulo. "Aquelas que atingiram níveis populacionais muito altos não vivem situação tão caótica como a de São Paulo porque fizeram antes centenas de quilômetros de metrô", afirma.

Mas, apesar de seus atributos, o metrô não pode ser considerado como alternativa isolada para resolver todos os problemas do transporte urbano. Assim como os trens metropolitanos, ele é indicado para trechos de grande demanda de passageiros, de 50 mil a 70 mil pessoas por hora por destino, ou acima disso. Em uma metrópole como São Paulo, Rio, Salvador ou Brasília, ele precisa ser complementado por sistemas de média capacidade, como os BRTs, VLTs e monotrilhos, e de baixa capacidade, como ônibus comuns e automóveis. "O interesse hoje por sistemas de média capacidade deve-se ao fato de que, além de darem vazão ao tráfego, podem ser construídos em curto prazo. Esses sistemas e o metrô não são alternativas, eles têm de ser construídos ao mesmo tempo. As grandes cidades têm demandas grandes, médias e pequenas", diz Branco.

Para José Geraldo Baião, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), o sistema metroviário é um dos modos de transporte que poderiam resolver questões como as longas distâncias que pessoas de menor renda têm de percorrer entre casa, na periferia de grandes centros urbanos, e trabalho, nas áreas centrais. "É um sistema com características para atender altas demandas. O metrô tem que ser alimentado por vans e micro-ônibus, para transportar as pessoas até terminais com capacidade de atendimento maior", observa.

Fonte: Valor Econômico

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